Uma reportagem da Veja, veiculada na semana passada, mostrou o desfecho da investigação da Polícia Federal sobre a origem dos boatos do fim do Bolsa Família. O inquérito não apontou responsáveis pela disseminação das notícias falsas que causaram pânico em doze estados do país, no mês de maio, entre eles a Paraíba.
Mas, antes de chegar à conclusão de que não houve crime, os agentes da PF utilizaram como linha de investigação a tese de que partidos políticos estariam por trás dos boatos, como integrantes do Partido dos Trabalhadores tentaram alardear. De acordo com a reportagem, na Paraíba o alvo na investigação foi o governador Ricardo Coutinho, que é do PSB.
“Na Paraíba, até o governador Ricardo Coutinho não escapou das acusações. Uma moradora de Cajazeiras (PB) apontou Coutinho como o possível autor dos boatos, afirmando que ele teria dito para ‘bloquear tudo’ relacionado ao Bolsa Família, ‘até que ocorresse uma fiscalização sobre quem precisa ou não’ dos benefícios”.
No entanto, ainda segundo a publicação, nada contra o governador foi comprovado. “As circunstâncias sugerem que o evento investigado foi motivado por um conjunto de fatores desassociados, produzindo o resultado sabido, não sendo factível atribuir responsabilidade a qualquer pessoa física ou jurídica”, concluiu a Polícia Federal.
Movimentação de beneficiários do Bolsa Família em agência da Caixa Econômica Federal, em Maceió (AL), após terem recebido informação de que 18 de maio seria o último dia para o resgate do beneficio
Confira reportagem na íntegra
Governo Dilma
PF tentou vincular partidos políticos aos boatos sobre fim do Bolsa Família
Polícia Federal buscou - sem sucesso - provas de que partidos estariam por trás dos rumores sobre o encerramento do programa, como sugeriram petistas A investigação da Polícia Federal sobre a origem dos boatos do fim do Bolsa Família não apontou responsáveis pela disseminação das notícias falsas que causaram pânico em doze estados do país, no mês de maio. Mas, antes de chegar à conclusão de que não houve crime, os agentes da PF utilizaram como linha de investigação a tese de que partidos políticos estariam por trás dos boatos, como integrantes do PT tentaram alardear.
O site de VEJA teve acesso à integra do inquérito, concluído no último dia 12 de julho, após quase dois meses de apuração. Os documentos mostram que uma das oito perguntas contidas no questionário apresentado pela PF a 200 sacadores do Bolsa Família buscava identificar laços políticos no episódio: “Sabe se o autor do boato é filiado ou militante de algum partido político?”, diz o sétimo item do questionário. Em nenhuma das 200 entrevistas, no entanto, o beneficiário apontou vínculos partidários.
Após o alvoroço - foram registrados cerca de 900.000 saques, totalizando 152 milhões de reais -, a ministra Maria do Rosário (Secretaria de Direitos Humanos) apressou-se em atribuir as origens do boato à “central de notícias da oposição”. A presidente Dilma Rousseff afirmou que o autor - que nunca existiu, segundo a própria PF - era "desumano". E o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, tirou da manga outra tese que jamais se confirmou, de que os rumores teriam partido de uma central de telemarketing, o que ajudou a alimentar a teoria conspiratória. Após o arquivamento do processo, Cardozo afirmou que as investigações da PF foram “isentas e criteriosas”.
No dia 22 de maio, a Caixa informou a PF que beneficiários do programa no Rio de Janeiro teriam recebido mensagens de telemarketing divulgando o cancelamento no Bolsa Família. A informação original partiu de uma ambulante identificada como Erilene da Silva Fernandes, que confirmou aos policiais que a filha dela, Bianca da Silva Pereira Viana, teria recebido a ligação por volta das 18 horas no dia 18 de maio.
Em depoimento, Bianca, de 20 anos, confirmou a versão e alegou que recebeu uma “gravação de áudio” com a informação sobre o fim do programa. A operadora Oi, que detém a linha telefônica de Bianca, negou que a chamada tenha partido daquele número. Como não encontrou nenhum outro beneficiário que relatou ter recebido o telefonema, a PF descartou essa possibilidade.
“Tendo em vista ser materialmente impossível descobrir qual a linha telefônica utilizada para receber a suposta ligação, se tornou também impossível confirmar a existência da ligação, identificar o telefone de origem e o responsável pela linha telefônica”, concluiu a PF.
A PF ouviu as mais diversas respostas sobre a origem do boato. A maioria dos entrevistados relatou ter tomado conhecimento de que os saques já estariam disponíveis por meio de familiares ou de colegas da vizinhança. Outros foram além: disseram ter ouvido a informação no rádio e na televisão ou de funcionários da Caixa Econômica Federal. Na Paraíba, até o governador Ricardo Coutinho não escapou das acusações. Uma moradora de Cajazeiras (PB) apontou Coutinho como o possível autor dos boatos, afirmando que ele teria dito para “bloquear tudo” relacionado ao Bolsa Família, “até que ocorresse uma fiscalização sobre quem precisa ou não” dos beneficícios.
Para os policiais, nenhuma dessas versões foi comprovada, mas os boatos se espalharam rapidamente por todo o país. “As circunstâncias sugerem que o evento investigado foi motivado por um conjunto de fatores desassociados, produzindo o resultado sabido, não sendo factível atribuir responsabilidade a qualquer pessoa física ou jurídica”, concluiu a PF.
Caixa poupada - Em todo o inquérito, não houve investigação aprofundada sobre o envolvimento da cúpula da Caixa Econômica no episódio. Funcionários foram ouvidos pelos próprios dirigentes da instituição financeira, e o resultado foi simplesmente repassado aos policiais. Não há referências às informações truncadas repassadas à população pela direção do banco e tampouco registro da tentativa de acobertar os erros do comando da instituição. Ao contrário. O inquérito relata notícia-crime da Caixa em busca de uma “severa investigação para a elucidação da autoria [dos boatos]” e se resume a reproduzir negativas do banco sobre suas evidentes responsabilidades no episódio.
Em resposta à PF, o diretor-executivo de Suprimento, Segurança e Contratação da Caixa, Cleverson Tadeu Santos, diz, por exemplo, que “quanto à indagação relativa à possibilidade de essas ações de aprimoramento do sistema terem contribuído para a geração de dúvidas ou equívocos por parte dos beneficiários do Bolsa Família, reitera a Caixa inexistir qualquer relação de causa e efeito”. “Não foi a flexibilização dos pagamentos que causou corrida às agências e canais de atendimento da Caixa”, completou o banco.
Redação
pbagora
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