domingo, 17 de março de 2013

Folha de São Paulo destaca João Pessoa como a capital mais violenta do país


Bairros inimigos, condomínios populares que se atacam, brigas de torcidas. Capital líder em homicídios de negros do país, João Pessoa é uma cidade dividida. 

No coração dos conflitos, centrados na periferia, estão grupos que controlam diferentes áreas da cidade: a "Okaida", nome inspirado na rede terrorista Al Qaeda, e os "EUA", inimigos da Okaida. 
Nessa disputa batizada pelo principal conflito mundial deste século, a história se resume à luta pelo comando do tráfico ou de presídios, diz a polícia. Mas moradores da periferia relatam que o problema é mais profundo e se nutre da rivalidade entre bairros. 
Sob ameaça de morte, jovens são proibidos de frequentar espaços visados por jovens de áreas rivais, ainda que não tenham ligação com o crime. Pichações das gangues marcam cenas de homicídios. 
A briga entre torcidas organizadas também estimula a violência, dizem moradores. Apesar de torcerem para o mesmo time, o Botafogo-PB, a Torcida Jovem da Paraíba e a Fúria Independente são de bairros rivais, e mobilizam centenas de jovens. 
Para a polícia, o ódio entre bairros é fomentado por traficantes para forçar jovens vulneráveis a entrar nas facções. "Perguntamos o por quê do encantamento com facções e o próprio jovem não sabe dizer", diz Andrezza Gomes, 22, da Pastoral do Menor. 
MORTES DE NEGROS 
João Pessoa registrou 518 mortes violentas em 2012. Para a Polícia Civil, metade está ligada ao tráfico e à disputa entre os grupos. 
O Mapa da Violência 2012, que computa homicídios de 2010 registrados pelo SUS (Sistema Único de Saúde), mostra que, para cada homicídio de branco, 29 negros são mortos na cidade. 
É a capital com a maior taxa de homicídios de negros do país: 140,7 por 100 mil negros. A taxa nacional é quatro vezes menor, 36. 
O estudo considera negro a somatória de quem se declara preto e pardo ao IBGE. 
O governo do Estado reconhece que os números apontam uma tendência, mas diz que pode haver diferença entre dados do IBGE, em que o entrevistado declara sua cor, e os do SUS, em que o médico atesta a cor da vítima. 
Para o historiador e militante negro Danilo da Silva, a Paraíba vive um "genocídio" da população negra. 
Não se trata, porém, de um confronto armado entre raças, mas de enfrentamento entre os próprios moradores da periferia da capital. Silva aponta a "omissão do Estado na periferia", que não se empenharia para resolver os crimes, como o componente que permite essa situação. 
"É como se o envolvimento no tráfico justificasse tudo: morreu, foi coisa boa. Mas nem todos estão envolvidos." Estudante, pedreiro, capoeirista e negro, Edjackson da Silva Ferreira, 17, foi morto no último dia 20 no condomínio onde vivia com a mãe, no bairro do Valentina, um dos mais violentos da capital. 
Moradores do condomínio rival invadiram o local e atiraram em Ferreira apenas para "não perder a viagem", porque não encontraram seus alvos, dizem pessoas próximas. 
"Ele não era do tráfico", afirma o professor de capoeira João Paulo Pereira, 28. Desde então, tiros entre os condomínios são quase diários. Até semana passada, ninguém havia sido preso. 
Editoria de Arte/Folhapress


 SÃO BENTO AGORA PB Com Folha de S. Paulo

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