
Absalão teria na Capital do Sertão da Paraíba uma importante missão a cumprir: executar o funcionamento do motor que fornecia energia para toda a cidade. Sua esposa, por sinal uma mulher de beleza invejável, trazia consigo um gênio forte e desumano. Pacato como sempre foi, ele aceitava os caprichos reprováveis da companheira, como quem pratica um grande sacrifício para manter um comportamento exemplar em meio à sociedade. A maior vítima da mulher malvada passou a ser justamente a pequenina que era verdadeiramente uma criada, responsável pela execução das tarefas de casa. Vivia em uma espécie de prisão e passava por constantes sessões de tortura, valendo citar ainda que além da pancadaria, promovida constantemente contra a indefesa, Domila chegava até mesmo a sentar sobre o seu corpo para entoar músicas, acompanhada de seu violão. Se por acaso não concordava, o homem do motor da luz aceitava as referidas práticas e, aos poucos, a tragédia passava a ser apenas uma questão de tempo.

Atraída pela algazarra das meninas de sua idade residentes na então rua da Pedra, a pobre inocente, após cumprir a tarefa, abre a janela e fica a contemplar as brincadeiras. O sono bate e, displicentemente, dirige-se para a rede, esquecendo-se de fechá-la, o que seria um álibi de Domila, para espancá-la de forma brutal, utilizando-se da trave de madeira usada como taramela, culminando com o massacre.
Com o crime concretizado o casal passou a viver um momento terrível, que, por incrível que pareça, criava-lhe maior preocupação não por conta do assassinato, mas por temer a reação pública. Naquele momento, em plena madrugada, já era traçado o plano de desova e, conseqüentemente, a distorção da verdade. Absalão buscava um meio de livrar-se do corpo da menina, contratando uma viagem no caminhão de Zé Vicente, cujo motorista era conhecido como Hindú e morava na mesma artéria. Francisca era levada em um saco de estopa e jogada no sítio Trapiá, em um ponto ermo, sem que o condutor do carro fosse informado ao certo que tipo de missão estaria sendo desenvolvida, já que anteriormente soubera apenas que o casal seguia com destino à residência de amigos para entregar uma encomenda, e, lá chegando, lhe orientara a aguardar o retorno em uma estrada vicinal. No dia seguinte, enquanto Domila espalhava que Francisca havia desaparecido, Absalão encenava uma procura frustrada.

No local onde encontrou o corpo da criança, o agricultor Inácio Lazário, fincou uma cruz de madeira simples que passou a servir de orientação. As pessoas que por ali passavam, mantendo uma tradição religiosa, rezavam algumas orações em sufrágio da alma da inocente.

Com o surgimento da Capela começava também a romaria, que mais tarde seria o ponto de maior convergência de peregrinos e fiéis do Estado da Paraíba. Entre os possíveis milagres atribuídos à “Menina Francisca” o mais surpreendente foi narrado por um americano que veio a Patos trazendo uma réplica dos seus pés, na época em que sofria de uma grave doença. Dona Odília, moradora do Sítio Trapiá, que zelou a capela por mais de 50 anos, sempre contava o fato com muita emoção. Segundo ela, “Este cidadão dos Estados Unidos, havia sonhado com a menina, informando que a sua cura estaria nesse ponto de romaria, localizado em Patos e para tanto bastaria que através da fé prometesse que levaria o ex-voto até o local. Pacto firmado, graça alcançada e promessa paga”.
Somente onze anos depois do crime, o primeiro julgamento do casal veio a se concretizar, graças à determinação do Juiz Luiz Beltrão, que desengavetou o processo e mandou que os dois fossem presos em Campina Grande. No primeiro Júri que não condenou o casal, ocorrido em 15 de junho de 1934, funcionou na defesa o Advogado José Tavares, na acusação o promotor Alfredo Lustosa Cabral e foram jurados: Francisco Olídio Wanderley, Antônio Chaves, Sabino José Viana, Virgílio Barbosa e Oscar Medeiros Torres. Em 24 de outubro o casal voltou ao banco dos réus, na sessão presidida pelo Juiz Manoel Maia de Vasconcelos. O promotor foi Antônio Dantas de Almeida e na defesa funcionaram os advogados José Tavares e Plínio Lemos. Os jurados foram: Laurênio Lauro de Medeiros Queiroz, José Caetano dos Santos, Anésio Ferreira Leão, João Olintho de Mello e Silva e Alcebíades Alves Parente, os quais decidiram pela absolvição, também por unanimidade. O último júri aconteceu em 05 de junho de 1935, presidido pelo Juiz Edgar Homem Siqueira, tendo na promotoria Antônio Dantas de Almeida e na defesa os advogados Plínio Lemos e Francisco Wilson da Nóbrega. Os jurados foram: Bossuet Wanderley da Nóbrega, Pedro da Veiga Torres, Raimundo Pires Braga, João Norberto da Nóbrega e José Permínio Wanderley, prevalecendo a mesma decisão anterior. Mesmo sendo inocentado pela justiça, o casal jamais foi perdoado pela população.

O então prefeito Antônio Ivânio Ramalho de Lacerda, responsável pelas despesas de elaboração do projeto e desapropriação do terreno que
serviria de estacionamento, propôs que a administração do parque ficasse a cargo da Diocese, o que não foi aceito pela Igreja, sob a alegação de que a menina não era beatificada. Neste momento registrou-se duas contradições: o comportamento de religiosos da mesma organização, em outros pontos idênticos, usando como exemplo o Padre Cícero Romão Batista do Juazeiro-CE, que como Francisca e os demais candidatos a santo do Brasil não haviam conseguido tal estágio, junto ao Vaticano e a atração de membros católicos da própria cidade de Patos, a partir da construção da Igreja de Santa Cruz, ao lado do Parque, como fruto da iniciativa do padre Jair Jacob Tomasella. Mais tarde, porém, prevaleceu o bom senso, e antes mesmo da conclusão do templo católico, o aceite da Diocese para tocar adiante as atividades do local foi concretizado.

Nos dias atuais, a Igreja já leva a efeito algumas celebrações dentro do complexo, o que no passado, somente o Padre Noronha, de saudosa memória, se arriscava a fazer. Dizia ele: “Celebro em qualquer canto porque Deus está presente em todo lugar”.
O Parque Turístico Religioso Cruz da Menina é composto de um anfi-teatro, cobertura em forma de pirâmide que protege a parte central onde estão a capela e duas salas de ex-votos, um restaurante, dez lojas de souvenir, espaço para a administração e posto policial. O ambiente é bem arborizado, agradável e atraente, chegando a ser considerado um dos pontos de maior visitação do Nordeste.
Presume-se que mais de 100 mil pessoas passem pelo parque anualmente e com a realização de algumas festas tradicionais, a exemplo de Pentecostes, o fluxo vem aumentando consideravelmente. O local é também parada obrigatória para os romeiros de vários Estados que se deslocam para o Juazeiro do Padre Cícero, principalmente no final de outubro e início de novembro.
Além dos folhetos comercializados no parque, os quais descrevem a história completa desde a sua origem, em 1993 a Lucena Publicidades produziu um filme em VHS, com a participação de 28 atores e mais de 100 figurantes, com duração de uma hora e onze minutos, sendo que todos os cenários e artistas são originários de Patos. Também foi editada uma revista, totalmente ilustrada, com todos os detalhes do episódio, além da disposição para um possível processo de beatificação junto ao Vaticano.
O Parque também se destaca por gerar mão-de-obra e renda. Além dos artesãos e empresários que lá atuam, a população pobre da Vila Mariana, uma comunidade situada ao lado, encontra ocupação e
lucratividade na venda de velas e funcionamento de alguns estabelecimentos que comercializam lanches e bebidas.

Para saber mais sobre a história de Patos adquira a II edição de Patos em Revista. Na publicação da 2ª Edição, “Patos em revista” vem com 260 páginas, informações e estatísticas sobre todos os setores da Capital do Sertão da Paraíba, ilustrada com mais de 1.200 fotos, fazendo uma viagem desde o início do século XVII até os dias atuais.
Adquira a revista na Banca Cultura, Banca Catedral e Distribuidora Nóbrega em Patos.
O MaisPatos.com estará postando durante os fins de semana “Fatos e Fotos” que resgatam a história e a cultura do povo patoense.
SAOBENTOAGORAPB Com MaisPatos/Patos em Revista
Nenhum comentário:
Postar um comentário