Foi amparada por amigos e parentes, principalmente pela filha mais nova, de 7 anos, que a comerciante Delcilene de Lurdes Souza, 32, velou o corpo da estudante Kevilin de Souza Lacerda, 10, no ginásio do distrito de Vila Maria, interior de Vargem Alta-ES, distrito onde a criança vivia e onde o crime foi cometido.
Chorando o tempo todo, ela falou sobre o assassinato da filha e disse que se sente vingada com a morte do acusado. “A população fez o que eu senti vontade de fazer”, afirmou.
O que você tem a falar sobre a maneira como a sua filha foi morta?
O que eu tenho a dizer é que tem que parar com essa violência no mundo inteiro. Só peço a Deus que conforte o coração de cada mãe. E peço a cada uma delas que tomem conta dos seus filhos. Talvez eu tivesse que ter sido mais cuidadosa com a minha filha. Mas eu a criei da melhor maneira que eu pude. Tudo que ela queria, eu dava. Ela ia onde queria.
Kevilin tinha algum sonho?
Ela queria fazer o aniversário dela, que seria dia 29 de julho, quando completaria 11 anos. Queria um vestido no estilo noivinha. E chegou a pedir à avó para dar esse vestido a ela. Falei que iria realizar esse sonho da minha filha. Ela também queria fazer luzes no cabelo. Eu prometi que faria tudo isso no aniversário dela. E já estava até guardando o dinheiro do Bolsa-Família dela para fazer a festinha. Acho que não vou nem mexer naquele dinheiro.
Como era a sua filha? O que ela gostava mais de fazer?
Ela era linda! Já sabia cozinhar. Neste ano, fez um bolo de aniversário para o padrasto dela. Cozinhava desde os 7 anos. Fazia comidinha para mim e levava na cama. Fazia uma carne que só ela mesmo para fazer. Kevilin gostava de cantar, de dançar e jogava futebol aqui nessa quadra mesmo, onde está sendo velada. Minha filha era tudo para mim.
Você acha que a Justiça foi feita?
Esse homem comia da nossa comida, comia no meu prato. Quantas vezes ele chegou ao meu bar e disse que não tinha nada para comer. Ele cometeu uma violência. Mas foi vítima de outra violência maior. A justiça foi feita. Eu me senti vingada. A população fez o que eu senti vontade de fazer.
Acusado havia prometido R$ 10 à menina
Após ouvir testemunhas, o delegado José Rafael Machado disse não ter dúvidas de que Gilbercan Mezini matou Kevilin. E descobriu que informações dadas pelo suspeito ao dono da oficina em que trabalhava eram falsas. “Ele havia dito que havia trabalhado oito meses numa oficina em Cachoeiro, mas eram apenas 15 dias”, disse. Nenhum documento dele foi encontrado.
“Aguardo os exames sobre abuso sexual. E as investigações sobre o linchamento continuam”, disse o delegado. Ele classificou o assassinato de Kevilin como um crime bárbaro.
“Esse homem tinha laços de amizade com a família da menina. Ele havia prometido a ela R$ 10, lhe dava doces. Acreditamos que a vítima foi ao barracão por saber que ele estaria lá.” Machado fez um alerta aos pais. “É fundamental conversar com as crianças sobre situações desse tipo.”
Cartaz
Com flores, dezenas de crianças choraram no velório. Aulas foram suspensas; e um cartaz, colocado na quadra: “Kevilin, você é um anjo e vai para o céu. Já fizemos justiça. Nós te adoramos. Sempre estaremos sentindo saudades. Ele vai para o inferno, no lugar de onde nunca deveria ter saído. Vai queimar no fogo do inferno”, dizia a mensagem. O sepultamento foi realizado às 17h, em Taquarussu.
Secretário: “Não pode haver essa reação. Culpados serão punidos”
Os envolvidos na morte de Gilbercan Mezini serão punidos, garante o secretário estadual de Segurança Pública, André Garcia. “A população tem agido muito mal. Por mais hediondo que seja o crime, não pode haver essa reação. Os indivíduos serão responsabilizados. A polícia descobrirá quem foram as pessoas que estimularam o crime”, assegura.
Segundo o secretário, os estupros costumam ocorrer independentemente da eficiência da polícia, mas os culpados são sempre presos. “Existe resolutividade nesses casos.
Os acusados são presos, processados e condenados. Não há um cenário de falta de resposta para que a população se comporte dessa maneira. Mesmo se houvesse, não existe justificativa.”
Garcia acrescenta que matar em nome da justiça vai contra o ordenamento jurídico e a cultura brasileira, que não é de violência. “O recado é: quem participar de crimes como esse será responsabilizado.” O secretário diz desconhecer a informação de que a polícia já sabia das intenções da população de matar o acusado. “Se a polícia se sentiu em condições de evitar a tragédia e não o fez, seria omissão.”
Vítimas de abuso: 40% são crianças
Somente neste ano, das 888 ocorrências policiais da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), 160 foram por suspeita de abuso sexual. Somados desde 2010, os casos atingem a marca de 1.477.
Desde 2010, os casos só aumentaram. Naquele ano foram 359, e em 2012 foram 488. “Cerca de 40% das vítimas são crianças”, diz o delegado Érico Mangaravite.
Entre os casos de violência sexual incluem-se crimes de estupro de vulnerável, estupro qualificado pela idade da vítima e favorecimento da exploração sexual de vulnerável.
O caso
Um homem foi linchado até a morte na manhã de hoje em Vargem Alta-ES. Ele é suspeito de ter estuprado e assassinado a menina K. S., de 10 anos, no distrito de Vila Maria, interior do município.
GimarcanMezini, conhecido como Gil, 24 anos, era vizinho da menina. Ele foi perseguido e espancado por cerca de 100 pessoas na manhã desta quarta-feira (29), na localidade de Castelinho, perto de onde a criança foi assassinada.
O corpo da menina, que estava desaparecida desde a noite de domingo, foi encontrado na noite de terça-feira (28) nos fundos de uma oficina mecânica, onde o suspeito trabalhava como lanterneiro e costumava dormir.
A criança tinha sinais de violência sexual e estrangulamento. Segundo os policiais que atenderam a ocorrência, os moradores relataram o fato da seguinte maneira: o suspeito teria dito que havia visto a criança brincando atrás da oficina por volta das 21h de terça-feira (28).
Foi quando o dono do estabelecimento encontrou o corpo embaixo de um latão. Neste momento, Gimarcan teria fugido para o mato, onde passou a noite, somente sendo encontrado na manhã desta quarta-feira pela população.
Revoltada, a população teria linchado Gimarcan, que chegou a ser socorrido e levado para o hospital de Vargem Alta, aonde chegou ainda com vida, mas não resistiu aos ferimentos e veio a óbito logo em seguida.
O ocorrido
No último domingo (26), a comerciante Delcilene de Lurdes Souza, 32 anos, mãe da vítima, comemorava o aniversário no bar da família, quando a menina pediu para ir dormir na casa de uma amiga.
Na segunda-feira (27), Delcilene foi à casa da família da amiga de sua filha e descobriu que a menina não havia dormido lá. A partir daí os familiares começaram as buscas.
Após a filha do dono de uma oficina mecânica ter encontrado um chinelo atrás de um cômodo próximo ao estabelecimento, o corpo da criança foi encontrado debaixo de um latão, próximo ao quarto que o suspeito dormia.
Quando a polícia foi acionada Gimarcan fugiu. Daí a suspeita que ele teria cometido o delito. O corpo da criança foi encaminhado para o Instituto Médico Legal de Cachoeiro de Itapemirim.
SÃO BENTO AGORA PB Com gazeta
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