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domingo, 28 de abril de 2013

Conheça o Pedhuá: apito criado por paraibano será a vuvuzela brasileira


Pedhuá será a vuvuzela brasileira em 2014
Criar musicalidade. Essa será a função do pedhuá na próxima Copa do Mundo de Futebol. A adaptação do apito indígena, idealizada pelo empresário paraibano Alcedo Medeiros, como o som do mundial, estará para a copa do Brasil como a vuvuzela esteve para a Copa do Mundo de Futebol da África do Sul, realizada em 2010. A expectativa é que até o início do mundial mais de 50 milhões de unidades sejam vendidas no Brasil e no exterior. 

No meio de semana a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) licenciou a adaptação do pedhuá como o som da Copa. O apito, que tem o som semelhante ao canto da ave nativa inhambu, deve começar a ser comercializado a partir do próximo mês pelo valor de R$10 reais. O instrumento estará atrelado à marca CBF até 2016, ano dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

O produto idealizado pelo empresário campinense foi inicialmente projetado pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). O professor doutor responsável pelo projeto, Itamar Ferreira, explicou como foi o primeiro contato do empresário com a instituição de ensino. “O empresário apresentou a ideia à UFCG. A partir de então começamos a trabalhar no conceito da marca e no projeto do produto pedhuá, que durou basicamente uma semana”, disse.    

De acordo com o professor, existem certas diferenças entre o pedhuá original, produzido artesanalmente pelos índios, e o protótipo concebido para a utilização na Copa do Mundo. A principal delas é o material com o qual são feitos os dois apitos. “O pedhuá dos índios é feito artesanalmente de madeira. Já o pedhuá feito para a Copa será de material biodegradável”, disse.

Segundo ele, o novo apito possui forma sinuosa para dar mais conforto na hora do manuseio. “A adaptação feita especialmente para a copa é um pouco maior, porém continua sendo compacto e de fácil transporte”, disse.

Som menos ensurdecedor

Um dos principais problemas da vuvuzela, som da Copa do Mundo de 2010, disputada na África do Sul, era o barulho ensurdecedor, que acabava atrapalhando inclusive o trabalho do trio de arbitragem e dos atletas dentro de campo, que mal conseguiam se comunicar. De acordo com o professor Itamar Ferreira, o pedhuá não deve causar o mesmo problema na Copa do próximo ano. “O som emitido por ele é baixo se comparado com a vuvuzela. O pedhuá não foi produzido para causar barulho e sim música dentro dos estádios”, pontuou, ressaltando que o projeto inicial sofreu poucas adaptações depois que deixou a universidade.

Sem rejeição com outros instrumentos

Apesar de ser um instrumento que valoriza a cultura indígena brasileira e a eleva internacionalmente, o pedhuá não possui relações histórico-culturais com o futebol nacional já que nunca foi utilizado em um Estádio de futebol brasileiro. De acordo com a antropóloga Mércia Rejane Rangel Batista, professora da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e coordenadora do projeto de licenciatura indígena, não existe futebol indígena. 

“Os assim chamados índios, quando descritos pelos viajantes, funcionários ou pesquisadores ao longo da história, não praticavam o futebol. Contudo, sempre demonstraram bastante curiosidade. O que faz com que os diferentes povos passem a praticá-lo e a adaptá-los aos seus sistemas sociais. Não podemos dizer que exista um futebol indígena”, disse. 

Mesmo assim, a antropóloga acha acertada a escolha do apito devido ao caráter integrador de uma competição em nível internacional. “A escolha feita pelo pedhuá pode indicar o desejo por parte dos organizadores do evento de mesclar elementos de origem européia (o futebol), com elementos de origem indígena pedhuá. Certamente, o símbolo/mascote (tatu) indica nossa condição tropical, assim como algum(ns) outros elementos de origem africana. Dando o sentido de uma mistura perfeitamente integrada, com a força ideológica que os grandes eventos podem projetar e construir”, analisou. 

Mércia Rejane não vê a escolha do pedhuá como uma exclusão a entrada das charangas, muito mais populares no futebol nacional, nos jogos da Copa do Mundo do Brasil. “Não sei se a escolha do pedhuá indicaria uma rejeição das charangas. Se o mesmo se fizer, provavelmente teremos um cenário de críticas e rejeições, pois as torcidas organizadas de futebol no Brasil praticam esse tipo de sonoridade”, lembrou. 

Segundo ela, a utilização do produto sinaliza uma proposta de algo novo sem que sejam rejeitados os modos já existentes de se torcer. “O ideal é se valorizar aquilo que se construiu ao longo dos últimos cem anos com relação ao esporte que consegue congregar multidões. O futebol tem sido capaz de expressar unidade na diversidade”, disse.

Ainda conforme ela, a escolha de um objeto indígena para representar o som da Copa pode significar uma nova abertura no esporte mais popular do mundo. ”Cada Estado, Região e Clube procura traçar sua diferença em diálogo com o outro. As torcidas organizadas, as bandeiras gigantes, os movimentos ensaiados, as músicas, as provocações. Nossa, é um mundo vivo e que, muitas vezes, se expressa de modo mais autônomo. Se o desejo é apresentar o que se tem, não se deveriam rejeitar as práticas. A busca por um elemento sonoro indígena pode ser o desejo de comunicar ao mundo uma face mais generosa e diversificada e que não corresponde ao que se efetivamente tem”, pontuou.

Seleção de projetos pelo Ministério
O Pedhuá foi escolhido em meio a um processo seletivo do Plano de Promoção do Brasil na Copa que contou com a participação de mais de 199 projetos de todo o país. Foram propostas que se candidataram a obter apoio financeiro de órgãos ou entidades da administração pública federal direta e indireta ou a chancela institucional do governo federal e que tiveram como objetivo retratar visões do país para o turista. As propostas deviam atender a pelo menos um dos seguintes eixos temáticos: negócios, turismo e sociocultural. A seleção foi feita em duas etapas, ambas com caráter eliminatório: habilitação técnica e avaliação de mérito. 

Entre os 96 projetos aprovados, além do pedhuá, está a Caxirola de Carlinhos Brown. Foi idealizada com base no caxixi, um tipo de chocalho, de origem africana, muito usado na capoeira e na MPB. A palha trançada do instrumento original deu lugar a um plástico sustentável. “A caxirola, assim com a vuvuzela, é a bola do torcedor.  A gente quer que cada brasileiro tenha uma caxirola nas mãos. É uma forma de dizermos que estamos no ritmo”.

Outro projeto aprovado foi o Cinefoot, festival de cinema de futebol. O projeto de  passar filmes que tenham esse esporte como temática terá uma edição especial no ano da Copa. A proposta chancelada prevê a exibição nas 12 cidades-sede de produções nacionais e internacionais que abordem o futebol. A entrada será franca. “Queremos estimular a produção de filmes sobre o tema e difundir os que já existem”, disse o diretor Antônio Leal.
Por  Paulo Pessoa, do Jornal Correio da Paraíba

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