Menos de dois dias depois da realização de uma importante manifestação no combate aos crimes contra a mulher – a Marcha das Marias, ocorrida na sexta-feira, à tarde – um caso de extrema violência doméstica indignou Macapá.
A vigilante Gemina Campos dos Santos, 30 anos, foi esfaqueada 17 vezes pelo marido, o mototaxista Natanael Souza Soares, também de 30 anos. A maioria dos golpes, 11 deles, foi aplicada na cabeça. A lâmina da faca entortou devido à força dos ataques. O crime ocorreu na madrugada de domingo, por volta de 4h, na residência do casal, no bairro Novo Horizonte – Zona Norte da capital.
Apesar da fúria descontrolada do agressor, a vítima, surpreendentemente, está viva. Ela teve alta médica do Hospital de Emergências (HE) ontem à tarde. Ela não voltou para casa. Procurou nova morada com familiares. O cabelo teve que ser raspado para que os médicos pudessem pontilhar os ferimentos. Está completamente abalada.
Gemina revelou que Natanael não aceitava a ideia de uma separação, proposta recentemente por ela. A vigilante disse que desde o início do relacionamento – há um ano – ele começou a ficar violento. “Todas as nossas brigas foram motivadas pelo ciúme. Ele sempre foi ciumento e agressivo. Não só comigo, mas também com os meus dois filhos. Inclusive na Delegacia Especializada em Crimes Contra a Mulher há vários registros das agressões que ele me fez. Eu já havia tentado me separar. Mas, ele nunca saia de casa, não aceitava e me fazia ameaças”, relatou.
Na noite que antecedeu o crime, ela esteve em um aniversário com os dois filhos e outros parentes. Quando retornou para casa, houve uma discussão. “Recordo que enquanto brigávamos, estava trocando de roupas, e em dado momento ele tentou manter relações comigo, à força. Eu reagi e ele então disse que ia me matar. Começou a me bater. Gritei para o meu filho mais velho, que tem 12 anos. Pedi para que ele abrisse a porta e daí sai correndo despida junto com ele para a rua, e o Natanael veio correndo atrás de nós com uma faca. O meu caçula de apenas quatro anos continuou dormindo, e graças a Deus não aconteceu nada com ele”, relembrou Gemina.
A 300 metros de casa, ela caiu, momento em que começou a ser golpeada. “Eu implorava para ele não me matar. Tentava lutar pela vida usando um lençol. Fui atingida com facadas nas mãos que quase me deceparam os dedos, e pelo menos onze das perfurações foram na minha cabeça, mas graças a Deus nenhuma atingiu meu rosto, nem meu pescoço. Ele só não concluiu o plano de me eliminar, porque a faca quebrou, e quando ele saiu para buscar outra, eu não sei como, mas consegui me levantar, correr e entrar em uma casa vizinha, onde pedi socorro. Meu filho só me olhava de longe, sem poder fazer nada, porque senão ele também poderia ser morto”, disse Gemina, chorando.
Testemunhas contaram à polícia que quando viu a mulher ser amparada pelos moradores, Natanael voltou para casa, pegou a bolsa da esposa com R$ 400 e fugiu em sua motocicleta. Até a noite de ontem, a polícia continuava a procura de Natanael.
Números
O caso confirma uma das informações contidas na estatística divulgada na sexta-feira, durante a Marcha das Marias, pela Coordenadoria Municipal de Políticas Públicas para as Mulheres: o bairro Novo Horizonte está entre os mais violentos quando o assunto é crime contra elas – juntamente com Novo Buritizal, Congós e Pacoval. A maioria das vítimas tem entre 24 e 45 anos de idade. E o Novo Horizonte é onde ocorreram mais mortes: duas este ano. Ainda segundo a estatística, em Macapá, uma mulher é violentada a cada 24 minutos.
SAOBENTOAGORAPB Com amapadigital.net)
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