Severino Araújo: 95 anos dedicados à músicaANALUCIA LIMP / DIVULGAÇÃO |
RIO - O maestro Severino Araújo - que foi por 74 anos o nome por trás do sucesso da Orquestra Tabajara - faleceu de insuficiência respiratória nesta sexta-feira, no Rio de Janeiro, aos 95 anos de idade. Ele foi internado há duas semanas no hospital Ipanema Plus, por complicações de diabetes e problemas renais.
Nascido na cidade pernambucana de Limoeiro, Severino Araújo aprendeu o ofício em casa. Seu pai, José Severino de Araújo, o Mestre Cazuzinha, autodidata, era regente de bandas de música e compositore. Aaos oito anos, já ajudava o pai em suas aulas de música. Com apenas 12 anos, fez o seu primeiro arranjo. Logo se tornou um apaixonado pelas big bands americanas, que ouvia em lojas de discos ou através de rádios de ondas curtas. Aos 16, iniciou sua carreira artística tocando clarinete e fazendo arranjos para a banda da cidade de Ingá, para onde a família se mudara. Sua fama se espalhou, e, em 1936, foi convidado para integrar como primeiro clarinetista a banda da Polícia Militar de João Pessoa, para onde se mudou.
Em 1936, entrou para a Orquestra Jazz Tabajara — logo depois rebatizada para Orquestra da Rádio Tabajara, na época comandada pelo maestro Luna Freire. Músico jovem e talentoso, foi convidado a integrar o grupo, estreando ao saxofone. Com a morte de Luna Freire, em 1938, Araújo assumiu o comando do grupo, levando seus irmãos, o trombonista Manuel, o baterista Plínio, e os saxofonistas Zé Bodega e Jaime.
Em 1943, foi convocado para o Exército, indo servir durante um ano na cidade de Aldeia, no interior de Pernambuco. Nessa época, compôs "Um chorinho em Aldeia", que se tornaria o seu primeiro sucesso popular. No ano seguinte, foi convidado para se apresentar na Rádio Tupi, no Rio. Por seu perfil, que unia sofisticação e apelo dançante, e também pelo repertório abrangente, a Orquestra Tabajara — como ficou conhecida — passou a ser chamada para animar salões populares e de elite.
Nesse período, o grupo foi contratado pela gravadora Continental, através da qual gravou seus primeiros discos. Em 1946, a orquestra — que teve Jackson do Pandeiro como integrante — fazia cerca de 32 bailes por mês. Logo, ela se tornou um ícone nacional ao emprestar o sotaque musical brasileiro à formação clássica das big bands americanas. Benny Goodman, Tommy Dorsey, Glenn Miller foram algumas das maiores influências do maestro.
Em 1951, Araújo e sua orquestra se apresentou com o próprio Dorsey nas festividades de inauguração da TV Tupi. No ano seguinte, o grupo viajou para a França, acompanhado do vocalista Jamelão para fazer uma apresentação de carnaval em Paris. O sucesso fez com que os músicos ficassem um ano na capital francesa. Nos anos 1960, a orquestra teve passagens pela Rádio Nacional e pela TV Tupi.
No livro "Orquestra Tabajara de Severino Araújo" (Companhia Editora Nacional), lançado em 2009, o escritor Carlos Coraúcci lembra que a orquestra passou por diversos movimentos musicais e momentos da MPB — bossa nova, era dos festivais, tropicalismo, rock etc — convivendo com eles e se adaptando.
Quando reduziu suas atividades, nos anos 1970, a orquestra cedeu músicos para gravações de várias estrelas da MPB, como Chico Buarque, Roberto Carlos e Tim Maia. Nos anos 1980, a recuperação veio com as domingueiras no Circo Voador, que se tornaram bastante populares, atraindo um novo público para a música de Araújo e seus comandados. Ao longo de sua trajetória, a Orquestra Tabajara lançou mais de cem discos, entre discos de 78 rotações, LPs e CDs.
Os integrantes se orgulham de muitos recordes: é a orquestra mais antiga em atividade no país. Severino é o músico que mais tempo dedicou a uma só banda: 74 anos. Em 2006, seu irmão Jayme Araújo assumiu o comando do grupo.
— Vamos tentar fazer alguma homenagem no Circo Voador, que foi a segunda casa dele por tanto tempo — conta o neto Igor Araújo, baixista do Monobloco, referindo-se às Domingueiras Voadoras realizadas pela orquestra por muitos anos.
SAOBENTOAGORAPB Com O GLOBO
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