Um golpe do acaso fez com que Brenda Gabriela da Silva, 4, fosse encontrada. Ela havia se perdido da mãe, Geisa Maria da Silva, 31, num culto da igreja Deus é Amor, em São Paulo, em meio a uma multidão.
Na segunda-feira, Alex Ramos Carvalho, vizinho da família na Mooca, viu Brenda no colo de um desconhecido. Ela apontou o dedo para Alex, que logo a reconheceu.
Tenho 17 anos, sou órfão, analfabeto e trabalho como repositor de estoque numa bomboniere. É meu segundo emprego. O primeiro foi de camelô, na 25 de março. Mas cansei de correr do "rapa" (batidas policiais).
Conheço Brenda desde que nasceu. É que somos vizinhos. Meu padrasto, que é pintor, foi à Bahia. Minha mãe, empregada doméstica, morreu quando eu tinha 12. Meu pai nem sei quem é.
No fim de semana estive em Aparecida, com amigos. Fizemos uma corrente na sala dos milagres para essa menina. Levei até uma foto.
Às vezes, toco bateria na igreja, mas não sou religioso.
Estava conversando com minha patroa sobre a viagem quando olhei pra rua e vi a Brenda apontando o dedo pra mim. Magra, suja, de touca e com o cabelo recortado.
Foi um milagre, era para eu estar no depósito. Aí até brinquei: "Essa é a menina que sumiu". A patroa falou: "Não é ela não". Daí, pedi permissão e saí.
Fui correndo e encontrei os dois parados na lanchonete ao lado, pedindo comida. Nervoso, falei alto: "Essa menina você roubou". O desconhecido, que parecia um morador de rua, respondeu: "Não, é minha filha, vou buscar o RG dela na carroça".
Daí, de repente, ele saiu correndo. Agarrei a menina para ele não levar.
Quando ele foi embora, ela começou a chorar, acho que com medo de ficar sozinha. O pessoal saiu atrás, mas não conseguiu pegá-lo. Uma mulher acalmou a menina.
O PM veio e pegou meu RG. Falei: "E agora? E se não for a menina?" Perguntamos seu nome e ela respondeu.
Mas foi pela TV que eu soube que era ela mesmo, quando o PM apareceu dando entrevista. Meu patrão comentou: "Você a achou, mas olha quem está recebendo saudação". E o pior, dizia que a achou numa outra rua.
Fui à delegacia e falei que o rapaz estava mentindo. Quando o encontrei, ele disse que já tinha falado tudo e não precisava de mais nada.
Mas o circuito de câmeras da loja registrou a cena inicial, e quando mostrei ao delegado, começou a confusão toda de novo. Assinei um boletim de ocorrência. (Questionado pela Folha, o delegado Paulo Cesar de Freitas, do 6º DP, no Cambuci, diz desconhecer a confusão.)
É claro que me senti um herói. Mas por várias vezes já chamei ambulância para ajudar, quando vi acidente na rua. Meu sonho era ser bombeiro, mas vai ser difícil.
Às vezes, fico pensando na vida, vem tudo, o serviço, minha mãe, esse negócio da alfabetização, caramba, tudo numa pessoa só, foda.
Para mim tudo continua na mesma. Quem agora precisa se salvar sou eu.
SAOBENTOAGORAPB Com folha uol
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